quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Mortalidade por transtornos mentais e comportamentais bate recorde no Paraná














As crises nos âmbitos político, econômico e social pelas quais o Brasil atravessou (e ainda atravessa) ao longo dos últimos anos tiveram impactos graves na saúde do brasileiro. E uma evidência disso é o aumento da mortalidade por transtornos mentais e comportamentais, com o número de óbitos batendo recorde no Paraná em 2019, último ano com dados disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Naquele ano, 912 mortes registradas no estado tiveram como causa situações relacionadas ao uso de álcool e outras drogas, esquizofrenias, transtornos delirantes, transtornos de humor (entre eles a depressão) e transtornos relacionados com o estresse, entre outros. Trata-se de um recorde dentro da série histórica do Ministério da Saúde, iniciada em 1979, superando os dados de 2018, quando 905 pessoas faleceram por conta de situações desse tipo.

Professor adjunto da Universidade Federal do Paraná e ex-diretor de Política sobre Drogas da Prefeitura de Curitiba (cargo que ocupou entre 2015 e 2017), o psiquiatra Marcelo Kimati Dias aponta que, na prática, o que se tem é um cenário de “tempestade perfeita”, no qual uma série de fatores coadunam e resultam, não raro, em um desfecho trágico. Entre esses fatores está a hipermedicalização da população, o agravamento do cenário de crise econômica e social e a redução da capilaridade do sistema de saúde pública no Brasil, especialmente no que diz respeito à atenção básica, primária.

“Existem alguns estudos que falam em movimentos da sociedade, processos pelos quais a sociedade passa que de fato criam maiores situações de vulnerabilidade. Seguramente o fato do brasileiro estar empobrecendo ao longo dos últimos anos, de ter havido uma redução de políticas sociais, aumenta a vulnerabilidade das pessoas”, aponta o especialista.

“Em relação à saúde pública, nos últimos anos tiveram uma redução do dimensionamento e do financiamento. Então há uma população empobrecida, sujeita a cada vez menos políticas sociais e cada vez menos protegida pelo sistema de saúde. São 14 milhões de desempregados hoje, milhões de pessoas entrando na linha de pobreza. Isso tudo é associado a um aumento da prevalência do suicídio”, complementa.