domingo, 6 de dezembro de 2020

Auxílio emergencial faz Caixa criar banco digital para baixa renda que pode render R$ 50 bilhões


 












A pandemia da Covid-19 fez a Caixa Econômica Federal detectar uma oportunidade de negócio capaz de render ao menos R$ 50 bilhões. A perspectiva foi impulsionada pelo pagamento do auxílio emergencial.

O montante bilionário é o valor estimado com a abertura de capital (49% das ações) de um banco digital que a Caixa pretende criar. O patrimônio da instituição viria dos serviços prestados pelo aplicativo Caixa Tem.

Hoje, a ferramenta tecnológica está vinculada a 105 milhões de contas. Elas foram abertas para o pagamento do auxílio emergencial e outras transações financeiras via celular —forma de estimular o distanciamento social.

O benefício emergencial foi criado pelo governo federal para minimizar o impacto da crise causada pelo coronavírus. Inicialmente o valor era de R$ 600 mensais, e agora foi reduzido para R$ 300. O auxílio acaba neste mês.

Ainda sem um nome definitivo, o braço digital da Caixa será destinado a correntistas de baixa renda.
A instituição permitirá movimentações de até R$ 5.000 por mês e concentrará todos os pagamentos de benefícios sociais do governo, que serão agregados em etapas, além de prestar todos os tipos de serviços financeiros —saques, pagamentos de contas ou transferências, venda de seguros e oferta de microcrédito.

O novo banco será controlado pela Caixa, que ainda aguarda o aval do Conselho de Administração para pedir a autorização de funcionamento ao Banco Central.

No momento, o que está em discussão no colegiado é o valor do investimento inicial a ser feito pela Caixa.
Será preciso garantir a estrutura tecnológica necessária e o deslocamento das equipes. Hoje o Caixa Tem usa a tecnologia do banco estatal e cerca de cem funcionários da instituição atuam no projeto.

Essa etapa, segundo executivos envolvidos, deverá ser concluída até o fim deste ano. A expectativa é que a aprovação pelo Banco Central então saia até o fim do primeiro trimestre de 2021.

O valor estimado (cerca de R$ 100 bilhões) é elevado porque, diferentemente de fintechs concorrentes, o braço digital já está em funcionamento na Caixa. A concorrência começou do zero e demorou a emplacar resultados.

Pessoas envolvidas no projeto afirmam que o Caixa Tem já está com mais de 50 milhões de correntistas fazendo algum tipo de operação financeira.

Essa movimentação mantém um constante fluxo de uso dos serviços do aplicativo. Esses clientes fazem ao menos uma transferência ou um pagamento de conta.

No fim do terceiro trimestre, essas transações movimentaram cerca de R$ 50 bilhões. São quase R$ 20 bilhões a mais do que no trimestre anterior.

A Caixa já vendeu mais seguros pelo aplicativo do que pela própria rede de atendimento. Os números, no entanto, não foram revelados.

A criação de um banco digital foi idealizada pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, no início da pandemia, em março, quando o governo planejava liberar a ajuda mensal a quem comprovasse perda de renda por causa do isolamento necessário para conter a disseminação do coronavírus.

A decisão do ministro Paulo Guedes (Economia) e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de editar uma medida provisória permitindo a abertura de contas digitais sem autorização do titular abriu caminho para o que Guimarães chama de “o maior processo de bancarização do planeta”.

Com a conversão da MP em lei, no início de abril, a Caixa registrou inicialmente 18,2 milhões de contas digitais. Os cartões de débito virtual vinculados só começaram a ser emitidos no segundo trimestre.

Pandemia fez surgir braço financeiro da Caixa Econômica que valeria R$ 100 bilhões se fosse instituição separada.