Ouvido nesta terça-feira, o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência, Saulo Moura Cunha, potencializou os indícios de que a invasão da sede do governo foi facilitada por uma lambança. Nela, a inépcia se confunde com cumplicidade. Nomeado sob Lula, Saulo Cunha chefiava a Abin no dia do quebra-quebra. Abastecia de informações o general Gonçalves Dias, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, amigo de duas décadas de Lula.
Entre 2 de janeiro e o fatídico dia 8, a Abin produziu “33 alertas de inteligência”. Chegavam pelo WhatsApp às autoridades, inclusive o general. De duas, uma: ou Gonçalves Dias não leu os alertas ou deu de ombros para eles. Nas duas hipóteses, não ostentou o comportamento que se esperava de um ministro que tinha a responsabilidade de zelar pela segurança do Planalto.
Em 6 de janeiro, a Abin alertou para a possibilidade de ações violentas na Praça dos Três Poderes. No início da manhã dia 8, informou-se a Gonçalves Dias sobre a chegada a Brasília de mais de cem ônibus apinhados de encrenqueiros. Profético, o general escreveu: “Vamos ter problemas”. Havia no Palácio três dezenas de soldados do Batalhão da Guarda Presidencial. O general absteve-se de requisitar reforços.
Gonçalves Dias impulsionou com sua inação a realização da profecia. Por volta de 13h30, Saulo Cunha repassou ao general, por telefone, a convicção de que a violência que descia do QG do Exército resultaria em invasão. Deu no que está dando.
O relato do ex-chefe da Abin à CPI incluiu uma tentativa de abafamento da inépcia. A Abin produziu dois relatórios sobre seus alertas. Ambos foram enviados ao Congresso —um em janeiro, outro em abril. O primeiro omitia o nome Gonçalves Dias. “Eu fiz os dois relatórios”, disse Saulo Cunha. “O ministro determinou que fosse retirado o nome dele dali, porque ele não era o destinatário oficial daquelas mensagens.”
Quando passou pelo GSI, com a missão de “desbolsonarizar” o órgão, o interventor Ricardo Capelli, número 2 do Ministério da Justiça, disse que nada tisnaria a “lisura da conduta” de Gonçalves Dias. Engano. O general já estava com a imagem maltrapilha. Com seu depoimento, Saulo Cunha deixou-o nu.
Com informações de Josias de Souza – UOL