quarta-feira, 16 de junho de 2021

Em esforço do para comprar cloroquina, autoridades brasileiras responderam e-mails em 15 minutos

 


Na tentativa de aumentar o estoque de hidroxicloroquina, o Brasil não mediu esforços para comprar o medicamento de farmacêuticas indianas. A ideia do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) era adquirir o remédio para que fosse usado no tratamento contra a covid-19 – mesmo que, em meio às tratativas, cientistas tenham revelado que a hidroxicloroquina é ineficaz contra a doença.

Segundo informações reveladas pelo Estadão, foram trocados 54 e-mails entre o governo do Brasil e empresas que fabricam hidroxicloroquina na Índia. Autoridades brasileiras responderam as mensagens depois de 15 minutos, à noite e até mesmo nos fins de semana. O contato foi feito entre março e junho de 2020.

Os e-mails foram enviados pelo ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil na Índia, Elias Antônio de Luna e Almeida Santos. Ele é o número dois da embaixada. Os documentos são sigilosos e foram obtidos pela agência de dados Fiquem Sabendo. Agora, as informações já estão com a CPI da Covid.

Em 11 de abril de 2020, um sábado, Gaurav Kumar Thakur, secretário para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores da Índia, enviou um e-mail ao ministro-conselheiro para oferecer 100 mil comprimidos de hidroxicloroquina. Oito horas depois, Santos confirmou que o governo do Brasil tinha interesse na proposta.

Em 25 de abril, também um sábado, Santos levou apenas 15 minutos para responder o funcionário de uma farmacêutica indiana, que tinha uma dúvida.

As tratativas continuaram mesmo após estudos que comprovavam que a hidroxicloroquina era ineficaz no tratamento da covid-19. A Sociedade Brasileira de Infectologia publicou um informe sobre o tema em 20 de maio de 2020. Segundo o órgão, “estudos clínicos com cloroquina ou hidroxicloroquina não mostraram eficácia no tratamento farmacológico de covid-19 e não devem ser recomendados de rotina”.

Segundo os e-mails obtidos pelo Estadão, 15 dias depois, Elias Antônio de Luna e Almeida Santos mandou e-mails para duas empresas indicadas para saber o preço do de componentes do medicamento, quantidade disponível e qual seria o prazo de entrega.

Documentos obtidos pela CPI da Covid, mostram que, entre 17 de março de 2020 e 23 de abril de 2021, a Pfizer enviou 81 e-mails a autoridades brasileiras; 90% delas ficaram sem resposta, mesmo com o alerta de que as mensagens eram urgentes.