Segundo informações reveladas pelo Estadão, foram trocados 54 e-mails entre o governo do Brasil e empresas que fabricam hidroxicloroquina na Índia. Autoridades brasileiras responderam as mensagens depois de 15 minutos, à noite e até mesmo nos fins de semana. O contato foi feito entre março e junho de 2020.
Os e-mails foram enviados pelo ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil na Índia, Elias Antônio de Luna e Almeida Santos. Ele é o número dois da embaixada. Os documentos são sigilosos e foram obtidos pela agência de dados Fiquem Sabendo. Agora, as informações já estão com a CPI da Covid.
Em 11 de abril de 2020, um sábado, Gaurav Kumar Thakur, secretário para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores da Índia, enviou um e-mail ao ministro-conselheiro para oferecer 100 mil comprimidos de hidroxicloroquina. Oito horas depois, Santos confirmou que o governo do Brasil tinha interesse na proposta.
Em 25 de abril, também um sábado, Santos levou apenas 15 minutos para responder o funcionário de uma farmacêutica indiana, que tinha uma dúvida.
As tratativas continuaram mesmo após estudos que comprovavam que a hidroxicloroquina era ineficaz no tratamento da covid-19. A Sociedade Brasileira de Infectologia publicou um informe sobre o tema em 20 de maio de 2020. Segundo o órgão, “estudos clínicos com cloroquina ou hidroxicloroquina não mostraram eficácia no tratamento farmacológico de covid-19 e não devem ser recomendados de rotina”.
Segundo os e-mails obtidos pelo Estadão, 15 dias depois, Elias Antônio de Luna e Almeida Santos mandou e-mails para duas empresas indicadas para saber o preço do de componentes do medicamento, quantidade disponível e qual seria o prazo de entrega.
Documentos obtidos pela CPI da Covid, mostram que, entre 17 de março de 2020 e 23 de abril de 2021, a Pfizer enviou 81 e-mails a autoridades brasileiras; 90% delas ficaram sem resposta, mesmo com o alerta de que as mensagens eram urgentes.