A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado teve acesso a telegrama secreto do Ministério das Relações Exteriores, divulgado pelo jornal O Globo, que contém a transcrição do telefonema feito por Bolsonaro no qual o presidente cita nominalmente as empresas EMS e Apsen ao pedir que a Índia liberasse a exportação dos produtos.
Senadores da comissão afirmaram que a ligação é prova importante do envolvimento pessoal do presidente com o fornecimento para o Brasil do remédio sem eficácia para o tratamento contra a covid-19.
Convocado para depor na CPI, o presidente da Apsen, Renato Spallicci, é um apoiador de Bolsonaro. Em 2018, ele declarou voto no atual presidente e tinha várias postagens nas suas redes sociais com ataques a adversários de Bolsonaro e defesa do governo.
O CEO da EMS, Carlos Sanchez, também tem ligação com o bolsonarismo. Além de reuniões no Palácio do Planalto, ele participou recentemente de jantar com empresários realizado em São Paulo no qual o presidente foi ovacionado.
Ao jornal O Globo, as duas empresas afirmaram que têm apenas relação institucional com o governo brasileiro.
No dia 4 de abril, o presidente Jair Bolsonaro fez a ligação para Modi e divulgou em suas redes sociais, ao postar uma foto na qual está ao lado então chanceler Ernesto Araújo. No dia 9, Bolsonaro fez outra publicação agradecendo ao primeiro-ministro indiano pela liberação. A Índia tinha suspendido em março a exportação de vários insumos devido à pandemia.
Mas o presidente não revelou em suas postagens que o pedido envolvia empresas privadas.
“Entrarei diretamente no assunto. Embora não haja, por ora, divulgação oficial, temos tido resultados animadores no uso de hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes com a COVID-19. Gostaria, por isso, em nome do governo brasileiro, de fazer um apelo ao amigo Narendra Modi para que obtenhamos a liberação de importações de sulfato de hidroxicloroquina feitas por empresas brasileiras”, disse Bolsonaro, de acordo com a transcrição feita pelo Itamaraty.
“O sucesso da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 nos faz ter muito interesse nessa remessa indiana. Estou informado de que um carregamento de 530 quilos de sulfato de hidroxicloroquina está parado na Índia, à espera de liberação por parte do governo indiano. Esse carregamento inicial de 530 quilos é parte de uma encomenda maior, e foi comprado pela EMS”, afirmou Bolsonaro.
“Adianto haver, também, mais carregamentos destinados a uma outra empresa brasileira, a Apsen. Este, como eu dizia, é um apelo humanitário que submetemos a nosso prezado amigo Narendra Modi, e que, se atendido, poderá salvar muitas vidas no Brasil”, acrescentou o presidente.