sexta-feira, 8 de abril de 2022

Com verba do FNDE, prefeito constrói casa e é investigado pela PF














Com oito obras de creches autorizadas no ano passado com verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o prefeito Luciano Genésio (PP), de Pinheiro, Maranhão, está sob uma grande investigação envolvendo desvios de recursos na área de Educação. Aliado de primeira hora dos dois homens fortes do PP no governo do presidente Jair Bolsonaro, Arthur Lira, presidente de Câmara de Deputados, e Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, Genésio chegou a ser afastado do cargo em janeiro deste ano após uma operação da Polícia Federal no município.

Mas depois de cerca de 40 dias fora do cargo ele voltou graças a uma liminar da Justiça. Com cerca de 84 mil habitantes, o município, que é um dos que mais se beneficiaram do programa Proinfância na região, conforme revela reportagem do GLOBO, vive em meio a denúncias de desvios de orçamento público e de notícias envolvendo o enriquecimento do prefeito, que está construindo uma casa de 24 quartos, com direito à pista de pouso, no Povoado Apertado.

Pelo menos 15 dos 17 vereadores da cidade são aliados de Genésio. Procurado, ele não foi localizado pelo GLOBO para se manifestar sobre as denúncias, fruto de investigação da PF e do Ministério Público. Chefe de gabinete do prefeito, Bruna Ramalho informou que ele cumpre uma agenda política em Brasília junto ao senador Werveton Rocha (PDT-MA), pré-candidato ao governo do estado. Genésio é tratado como uma das principais lideranças políticas da região e, antes da investigação da PF, chegou a ser vice-presidente da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem).

Um dos poucos adversários do prefeito, o vereador Felipe Chicão (MDB) de Pinheiro chegou a entrar com um pedido de instalação de uma CPI para verificar desvios da atual gestão municipal e de afastamento definitivo de Genésio, mas o requerimento foi recusado pela Câmara Legislativa. Ele diz ainda que, no ano passado, também houve suspeitas de malversação de recursos públicos para o combate à Covid-19.

"Desde que ele assumiu o cargo, ele (Luciano Genésio) enricou. Essa liminar que ele obteve para voltar ao cargo é um absurdo. Dizem que custou milhões", acusa Felipe Chicão, acrescentando que Genésio está deixando o PP para se filiar ao PDT, de forma a viabilizar o apoio à candidatura de Werveton Rocha ao governo do estado. "Ele tem estreita ligação com o governo federal. No dia seguinte à operação da PF, ele estava com o Lira numa visita oficial ao Maranhão. Os dois posaram juntos para foto naquele dia".

Em março deste ano, a PF desarticulou um suposto esquema de fraudes em licitação, superfaturamento e simulação de fornecimento de alimentos para merenda escolar. As fraudes teriam ocorrido no âmbito do Programa de Alimentação Escolar do FNDE. Os contratos teriam sido fechados coma prefeitura de Pinheiro, mas também com as administrações de São Bento e Peri-Mirim.

De acordo com a PF, os contratos foram firmados com as principais associações rurais da região e teria sido apurado o desvio de quase totalidade dos recursos. Entre 2018 e 2021, somente as três prefeituras teriam se envolvido em irregualridades calculadas em R$ 3,8 milhões. Os valores desviados teriam chegados a agentes públicos, segundo a PF, através dessas associações e de empresas de fachada.

Um dia após a operação 5ª Potência, no dia 23 de março, Genésio esteve com Arthur Lira, durante cerimônia em que o presidente da Câmara de Deputados foi homenageado com a Medalha do Mérito Municipalista Maria Félix. Na ocasião, Lira estava acompanhado do senador Weverton Rocha.

Enquanto se vê engendrado em denúncias nas áreas da Educação, Genésio também chama atenção pela mudança no padrão de vida. Ele está construindo uma casa no povoado da cidade com pista de pouso e área para vaquejada. As obras estariam paradas desde que as operações da PF tiveram início.