sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Israel move tropas para a fronteira com o Líbano e sinaliza nova fase da guerra com foco no Hezbollah


 














O governo de Israel anunciou que começou a mover tropas para o norte do país, na fronteira com o Líbano. O Ministério da Defesa afirmou que está iniciando uma “nova fase da guerra”, dando indícios de que partirá para o combate contra o grupo extremista Hezbollah.

O anúncio acontece em meio a explosões coordenadas de equipamentos eletrônicos do Hezbollah, entre terça-feira (17) e esta quarta-feira. Mais de 20 pessoas morreram e milhares ficaram feridas. O grupo extremista, que tem base no Líbano, acusou Israel de ter planejado o ataque.

Israel não assumiu a autoria das explosões, e o governo evitou fazer comentários sobre o ataque. Por outro lado, segundo a Associated Press, o país avisou os Estados Unidos sobre a execução da operação.

Veja, a seguir, os pontos que indicam uma escalada no conflito:

  1. Hezbollah tem bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade aos terroristas do Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza. O grupo extremista controla partes do Líbano e tem histórico de oposição aos israelenses.
  2. Nas últimas semanas, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah. Israel tem bombardeado estruturas do grupo no Líbano.
  3. Entre terça e quarta-feira, centenas de pagers walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
  4. Em relação aos pagers, o jornal “The New York Times” informou que autoridades que tiveram conhecimento da operação revelaram que Israel interceptou um lote de pagers encomendado pelo Hezbollah.
  5. Explosivos foram colocados dentro dos equipamentos, antes da encomenda ser entregue ao grupo extremista. Os dispositivos receberam uma “mensagem falsa” e tocaram minutos antes de explodir, enganando membros do Hezbollah.
  6. Já nesta quarta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
  7. Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
  8. Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.

Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, afirmou que esses sinais indicam que Israel pode estar se preparando para uma resposta mais agressiva e arriscada.

Por outro lado, o professor lembra que esse movimento não tem o apoio dos Estados Unidos. Na segunda-feira (16), o governo norte-americano enviou para Israel Amos Hochstein. Ele se reuniu com Netanyahu, Gallant e outras autoridades locais.

“Hochstein alertou Netanyahu e Gallant de que uma guerra mais ampla no sul do Líbano não ajudaria a trazer os civis de volta ao norte de Israel. Além disso, qualquer operação militar poderia afastar ainda mais a possibilidade de um cessar-fogo, defendido pelos Estados Unidos, e aumentar o risco de uma guerra regional”, afirmou.

Ainda segundo Fancelli, as explosões de equipamentos de comunicação do Hezbollah reforçam uma estratégia para enfraquecer o grupo extremista. Isso dificulta a mobilização dos membros em caso de um ataque de Israel.

Já para a jornalista Sandra Cohen, do g1, Israel atiçou mais combustível ao conflito na fronteira com o Líbano ao promover um ataque inédito contra o Hezbollah.

Diante da escalada no conflito, o Líbano pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, que foi marcada para sexta-feira (20).

E a Faixa de Gaza?

Para Uriã Fancelli, a guerra na Faixa de Gaza não seria abandonada por Israel. O que se espera é que o país abra uma segunda frente no conflito.

O professor analisa que, de acordo com o último relatório do Institute for the Study of War, Israel estaria à beira de neutralizar o Hamas militarmente na Faixa de Gaza.

“O grupo, que antes se apresentava como uma força organizada, agora estaria operando de forma desordenada e descentralizada, um sinal claro de que está à deriva”, afirmou.

Com o Hamas extremamente enfraquecido dentro da Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel teriam espaço para partir para uma nova ofensiva. O país, inclusive, já adotou uma estratégia semelhante no passado.

“A Guerra do Yom Kipur, em 1973, é um exemplo disso. Israel foi surpreendido por ataques coordenados do Egito e da Síria em duas frentes. No sul, o Egito cruzou o Canal de Suez e invadiu a Península do Sinai; no norte, a Síria atacou as Colinas de Golã. Israel não hesitou: focou primeiro no sul, onde a ameaça egípcia era mais preocupante”, relembrou.

Fancelli afirma que Israel partiu para enfrentar a ameaça síria nas Colinas de Golã apenas depois de conseguir conter o avanço egípcio. Segundo ele, embora tivesse de lidar com duas frentes quase ao mesmo tempo, o país manteve uma prioridade clara.

“Não é difícil traçar um paralelo com a situação atual em Gaza e no Líbano. Israel sabe que, para garantir sua segurança a longo prazo, não pode deixar nenhuma frente aberta.”

“Assim, a estratégia de priorização – focar numa ameaça e depois partir para a próxima – poderia indicar a maneira com que Israel conduz seus conflitos, eliminando qualquer risco que ameace sua segurança, um por um”, conclui.

Fonte: g1