Sediada em Brasília, a Abemil foi fundada pelo Capitão Davi, um militar reformado com 55 anos, que recebeu 3,8 mil votos nas eleições de 2022, e atua no lobby pela implantação de escolas militares. Em seu site, a Abemil diz não ter fins lucrativos e afirma que o processo envolve reuniões com gestores municipais, audiências públicas e a votação do de ensino militarizado pela Câmara Municipal.
“É no quinto passo descrito no site que a associação do Capitão Davi sai ganhando: ‘é celebrado o termo de convênio entre o município e a Abemil’, diz a página da entidade. O que ele não diz é que isso envolve pagamentos, por vezes milionários, à associação”, destaca a reportagem.
Ainda conforme o Metrópoles, a Prefeitura de Lins, no interior de São Paulo, firmou o maior contrato com a Abemil até o momento, inicialmente por R$ 598 mil em 2022, com duas prorrogações que elevam o valor total a R$ 1,9 milhão até 2025. Outros municípios, como Buritis em Minas Gerais, também têm contratos significativos, com valores que chegam a R$ 1,7 milhão.
As parcerias preveem a seleção de militares para atuar nas escolas, muitas vezes sem a exigência de experiência na área educacional. Os contratos da Abemil incluem a padronização de uniformes e a implementação de regras rígidas para a aparência dos alunos, como cortes de cabelo específicos para meninos e meninas.
Questionada pela reportagem, a Abemil afirma ser uma entidade independente e apartidária, além de prestar serviços em 19 escolas em todo o país e contar com “um corpo de funcionários civis e militares da reserva, criteriosamente selecionados”. Ainda segundo a entidade, as ações “estão voltadas para o fortalecimento da educação cívico-militar no país, promovendo a disciplina, a responsabilidade, o patriotismo e o desenvolvimento cívico entre os jovens brasileiros”.
A implantação do modelo de escolas cívico-militares ganhou impulso com a aprovação, em maio, de um projeto do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que prevê a implantação de ao menos 100 unidades de ensino com o modelo militarizado. O governo de São Paulo, porém, nega qualquer participação da Abemil na elaboração do projeto de lei estadual sancionado por Tarcísio.
Em nota, a gestão estadual afirma que o programa foi desenvolvido exclusivamente por grupos de trabalho e estudos técnicos da Secretaria da Educação e da Segurança Pública. A lei prevê que policiais militares aposentados atuem como monitores nas escolas, com a seleção e regras de funcionamento a cargo da Secretaria de Educação.