quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Preso e destituído: golpe frustrado de Pedro Castillo deixa lições ao Brasil


 














Um a um, os alicerces que poderiam dar sustentação ao golpe de Estado ensaiado por Pedro Castillo no Peru, na quarta-feira (7/11), foram se afastando até que o projeto de ditador ficasse isolado.

Ministros, a vice-presidente, possíveis aliados no Congresso, juízes, Forças Armadas. Não teve ninguém que dissesse a Castillo “vai na frente que seguimos atrás". E não seguiram.

Isolado, o presidente que queria destituir o Congresso e convocar novas eleições para fugir de seu processo de impeachment.

A medida era claramente inconstitucional e não foi obedecida. No fim do dia, Castillo havia sido destituído e preso. Em seu lugar assumiu a vice Dina Boluarte.

A queda de Castillo foi celebrada por aqui tanto à direita quanto à esquerda.

Nas redes, havia quem visualizasse no ocaso do ex-professor e líder sindical eleito por um partido de extrema esquerda.

À esquerda, foi inevitável observar o desfecho da história sem interpretá-lo como uma sombra aos planos golpistas de quem ensaia também aplicar golpes do tipo por aqui.

O ocaso de Castillo, eleito há pouco mais de um ano, tem e não tem pontos comuns com o contexto brasileiro.

Lá, como cá, a eleição foi marcada por uma polarização profunda que deixou marcas na sociedade peruana. Parte apoiava Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori que se entornou ao poder com um golpe semelhante ao ensaiado por Castillo. Keiko era a candidata da extrema direita e também demorou a reconhecer a derrota.

O candidato vitorioso era um outsider despreparado que chegou onde chegou à base de populismo e gestos simbólicos, como montar num cavalo para se dirigir a uma seção eleitoral no dia da votação.

Neófito e entusiasta de gestos do tipo, Castillo estava mais para Bolsonaro do que para outros candidatos que também visaram a Presidência em anos recentes.

A exemplo de Castillo, porém, Lula (PT), que acaba de ver a aprovação a fórceps da chamada PEC da Transição, terá vida dura a partir de 2023. A sociedade seguirá rachada e o Congresso tem uma base hostil eleita em outubro que promete dificultar e muito o andar da carruagem.

As semelhanças param por aqui.

Uma vez eleito, Castillo só fez aprofundar as hostilidades com o Congresso. Chegou a ser considerado moralmente incapaz de governar o país. Quando isso acontece, eventuais escândalos de corrupção, que o presidente foi incapaz de evitar, se transformam numa hecatombe. Não tem ninguém disposto a dar a cara a tapa a um presidente sem rumo.

Bolsonaro precisou se rearticular com o Congresso para sobreviver à enxurrada de pedidos de impeachment que passaram às mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) –no Peru, as leis locais facilitam a aplicação do dispositivo.

Lula deve seguir o mesmo caminho.

Afinal de contas, ele não estreou ontem em política e sabe com quem está lidando. E, nas vezes em que o caldo engrossou, numa crise que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e sua prisão, as ordens judiciais foram cumpridas, sem ensaio de golpe ou estímulo à violência.

Para quem há meses ensaia uma rebelião contra o resultado das urnas e as instituições que garantiram por aqui a legitimidade do processo, o fim da linha para Castillo é didática.

Lugar de golpista é na cadeia.

Seja ele de direita ou de esquerda.