segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Da seca extrema às chuvas excessivas: o que explica o “clima louco” no Paraná?

 


Nunca se choveu tanto em Curitiba num mês de outubro como em 2023. É o que mostra um levantamento com base em informações diárias do Banco de Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o qual revela que neste ano, até o dia 18, a Capital já registrou a precipitação de 311,4 milímetros de chuva. Para se ter noção do que isso representa, esse volume equivale a 28,5% do volume total de chuva em 2023, configurando ainda o outubro mais chuvoso na cidade desde 2003, pelo menos.

Difícil até de acreditar, mas o Paraná, que hoje já soma 22 municípios em situação de emergência por causa das chuvas de outubro, até pouco tempo encarava, além de uma pandemia, outro problema, exatamente o contrário do atual: era a estiagem, uma seca histórica (quiçá a mais grave na história paranaense) que perdurou de 2019 a 2021 e obrigou toda a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) a conviver, entre março de 2020 e janeiro de 2022, com um rodízio no abastecimento de água.

O que, então, explicaria o fato de o estado, num intervalo relativamente curto de tempo, ter ido da seca extrema às chuvas excessivas (na última semana, inclusive, os reservatórios de água que abastecem a Grande Curitiba permaneceram cheios, com 100% da capacidade)? Em outras palavras (e aproveitando o título da reportagem), o que explica esse “clima de louco” no Paraná (e em Curitiba)?

Bom, para explicar as chuvas excessivas de 2023 é inevitável citar o fenômeno El Niño, que ocorre quando as águas do Pacífico, próximas à Linha do Equador, passam por um aquecimento acima do normal por um período de no mínimo seis meses. Isso altera a formação de chuvas, a circulação dos ventos e a temperatura e um dos principais fatores que explicam as chuvas excessivas das últimas semanas.

É que o El Niño provoca uma grande circulação de ventos, que acaba interferindo no movimento de outros ventos, impedindo o avanço de frentes frias pelo território brasileiro. Com isso, as frentes ficam estacionadas por mais tempo na Região Sul do Brasil, diz o Inmet, o que aponta para uma tendência de chuvas acima do normal.

Outro ponto importante (e que ajuda mais a explicar também a recente seca), no entanto, são as mudanças climáticas. Em entrevista recente ao Bem Paraná, por exemplo, o meteorologista Reinaldo Kneib, do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (SIMEPAR), explicou que já existem estudos que apontam no sentido dessas mudanças estarem potencializando a ocorrências de eventos climáticos extremos, por conta da liberação maior de energia na atmosfera.

“Alguns estudos apontam nessa direção, que o ser humano, através da emissão dos gases do efeito estufa, faz a atmosfera ficar mais quente, o que gera mais energia. Essa condição aumentaria os extremos: temos mais períodos secos e o oposto pode acontecer, de ter mais tempestades. Mas temos os fenômenos do dia a dia, como a chuva de verão, e temos fenômenos cíclicos, que ocorrem a cada 10, 20 anos, que são fenômenos naturais e que as vezes não são claros no dia a dia, mas acontecem de tempos em tempos”, explica o meteorologista, ressaltando ainda que Curitiba, por ficar entre duas serras, é uma região crítica para fenômenos naturais. “Podemos, inclusive, ter uma potencialização disso tudo nas próximas décadas”,